O estudo do pensamento de Gilles Deleuze, nos diz o biógrafo François Dosse, diferentemente de outros lugares na América Latina, criou raízes no Brasil. Essa constatação pode ser facilmente exemplificada através de milhares de pesquisas que encontramos nas bases de dados das universidades, e docentes pesquisadores reconhecidos internacionalmente por suas leituras, livros publicados sobre o tema, traduções, etc. Nomes como o de Luiz Orlandi, Suely Rolnik, Roberto Machado, Peter Pál Pelbart, são somente alguns dos mais conhecidos estudiosos do tema. Muitos conheceram Deleuze, tomaram suas aulas, o entrevistaram, etc. Outros, aprendizes, seguiram esse caminho do pensamento, proliferando de uma maneira bastante rizomática algumas problematizações que a filosofia de Deleuze aporta. Em diferentes campos, como os da arte, antropologia, pedagogia, música, ciências da comunicação, clínica, filosofia, entre outros, encontramos interessantes prolongações da filosofia deleuzeana. Mais que interpretações, o que encontramos no Brasil é uma experimentação diferenciada dos conceitos e problemas, novos usos dessa filosofia que aparecem nos mais diversos planos de criação.
Com a intenção de apresentar ao público hispanoparlante essa rica experimentação filosófica “deleuzeana” no Brasil, organizamos esse pequeno dossiê como edição especial bilíngue, da qual fazem parte, oito autores, seis textos, e diferentes ressonâncias com o pensamento de Deleuze. Luiz Orlandi nos presenteia com dois textos, um que contém uma análise mais geral da filosofia de Deleuze, e uma entrevista que Deleuze lhe concedeu. Hélio Rebello Cardoso Jr. nos oferece um texto relacionando Deleuze e a matemática. Silvio Gallo e Gláucia Maria Figueiredo pensam o problema da educação, no seu aspecto maior e menor. Já Silvio Ferraz e Annita Costa Malufe nos indicam algumas problemáticas de Deleuze no campo da arte. E, finalmente, Eduardo Passos e Carlos Eduardo Mello escrevem sobre a clínica e os corpos, passando pelo cinema.
Sabemos que poderíamos incluir nesta coletânea muitos outros exemplares dessa produção brasileira relacionada ao pensamento de Deleuze, no entanto, consideramos esses textos uma boa apresentação, parcial mas singular, de algumas das pesquisas e experimentações que acontecem no Brasil. Consideramos a leitura brasileira uma excelente caixa de ferramentas teórica, parafraseando a expressão de Deleuze. Por meio desse dossiê, fica o convite para se conhecer mais da bibliografia sobre Deleuze publicada no Brasil; esperamos que os artigos aqui apresentados, como pequena amostra dessa ampla produção, sirva de propulsor a muitos outros encontros com as atualizações brasileiras do pensamento de Deleuze.
Ana Carolina Patto Manfredini
Hélio Rebello Cardoso Jr
Editores convidados
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