Bruxa: uma arqueologia imagética da prostituta sagrada

 

 

Resumo: Este artigo pretende refletir sobre a bruxa como um arquétipo que nasce do desdobrar-se das camadas da Mulher Selvagem no movimento de vida-morte-vida que se perdeu como algo precioso, soterrado junto com as entranhas da alma do feminino como valor ético e estético nas dominações simbólicas desde que perdemos o papel da prostituta sagrada e os rituais dedicados à Grande-Mãe. São compartilhados exemplos cinematográficos que, através da imagem como recurso artístico fundamental e de múltiplos significados, tentam, de alguma forma, resgatar valores dessa força criativa do universo feminino através do papel da sacerdotisa em diferentes facetas contextualizando suas distintas importâncias em diversos momentos e culturas. As reflexões ocorrem pelo contato com o conteúdo artístico, atualizando pelo cinema o caráter simbólico da bruxa como exílio transformado.

Palavras-chaves: bruxa, mulher selvagem, prostituta sagrada, cinema, arquétipo, sacerdotisa.

Resumén: Este trabajo va a reflexionar a propósito de la bruja como un arquétipo que nace por ser un desdoblamiento de las camadas de la Mujer Savaje en el movimiento de vida-muerte-vida que se perdió como algo precioso, soterrado junto con las entrañas del alma del feminino como valor ético y estético en las dominaciones simbólicas desde que perdimos el papel de la prostituta sagrada y los rituales referentes a la Gran-Madre. Son compartidos ejemplos cinematográficos que, através del imagen como recurso artístico fondamental y de múltiplas significaciones, intentan, de alguna manera, rescatar valores de esa fuerza creativa en el universo feminino através del rol de la sacerdotisa en distintas facetas contextualizando sus diferentes importancias en diversos momentos y culturas. Las reflexiones ocurren por el contacto con el contenido artístico, atualizando por el cine el caráter simbólico de la bruja como exílio transformado.

Palabras-claves: bruja, mujer salvaje, prostituta sagrada, cine, arquétipo, sacerdotisa.

Abstract: This article aims to reflect on the witch as an archetype that is born as an unfolding of the layers of the Wild Woman in the llfe-death-life movement that was lost as a buried value, along with the bowels of the feminine soul as an ethical and aesthetic value in dominations symbolic since we lost the role of the sacred prostitute and the rituals dedicated to the Great Mother. Cinematographic examples are shared that, through the image as a fundamental artistic resource and multiple meanings, attempt, in some way, to rescue values of this creative force of the feminine universe through the role of the priestess in different facets, contextualizing its differents importances in different moments and cultures. Reflections occur through artistic contact, updating through cinema the symbolic character of the witch as a transformed exile.

Keywords:  witch, Wild Woman, sacred prostitute, cinema, archetype, priestess.

 

  1. O fogo da bruxa como criação

                                                                      

“O amor é o fogo que arde sem se ver

É ferida que dói e não se sente

É um contentamento descontente

É dor que desatina sem doer

E estar-se preso por vontade”[1]

 

Quando invocamos o papel cultural da bruxa e suas minúcias, estar-se presa por vontade é algo que se refere a como exercemos a liberdade e como abrimos caminhos outros dentro de nós para responder com o corpo como um todo em comunicação ao que é visto, mas não vivenciado como fora de nós:  é como reverberamos no mundo o que o corpo tenta processar nas experiências com o outro de maneira tão singular e integrada; é um ser ligado à Natureza por excelência. É a integração dos sentimentos paradoxais que estão em jogo e são as nossas energias femininas e masculinas que estão em exercício temporário de equilíbrio constante.

A bruxa é uma mulher que imaginamos velha, ainda que por fora possa ser ou ter sido jovem, é um ser vivente de alma antiga, por isso criativa e criadora – sabe usar seu fogo e vitalidade para transformar seu entorno a seu favor. Portanto, intuitiva; e, por isso, assustadora. Em contato com as próprias sombras, ela vê e prevê, por experiência da vida: não há o que e como contestar, em presença.

O corpo de uma mulher ao envelhecer sabe o que atravessou sua experiência, o que lhe fez sentido afetivo, pois seu corpo carrega todas as marcas do que lhe foi significativo para a alma e o que ainda vive de vibrante no corpo para além das reverberações do presente.

Na pele, rugas; na existência de expansão, estrias; no cabelo, semitons platinados; no nariz, o faro apurado da mucosa que pressente os perigos; na vagina não tão imediatamente umedecida, o pedido do vínculo mútuo num mergulho de risco emocional; no olhar, todas as indagações geradas pelo conhecimento das vidas de todos os tempos – tudo passa pelas modificações adaptativas que a pele fez para integrar o corpo em um só tempo nessa existência e está visível.

E, do que viveu, é o amor que permanece, porque é ele que ensina sobre a morte e o sentido da vida; justo quando ele faz vibrar nossos corações afinado com o universo compreendemos todas as vezes que pulsamos fora dele, exatamente por contraste. Esse amor que transpira aprendizagens, tem espaços para os distintos tipos de afetos e sobrevive a altos e baixos, para além do amor romântico, idealizado e fora do alcance para reles mortais. Esse amor pleno-de-todas-as-coisas-sagradas-e-profanas-do-mundo, não outro.

E é esse corpo que, quando cessam seus ciclos de regras mensais, passa, não por acaso, para muitas das mulheres, a ter sintomas de fogachos: é hormonal, mas também existencial, para que não nos esqueçamos em nenhum tempo de nossas vidas; que o útero portador de filhos/as biológicos ou não, nos ensinou a gerar e a gestar tudo que o afeta como parte fundamental da alma feminina que é.

Tal como as plantas, a bruxa tem todos os ciclos e elementos da natureza dentro de si. É um ser aquático que se transforma através dos fluidos; ora como recém-peixe que sai do útero e mama os nutrientes da mãe em estados de água leitosa e branca; ora como sereia que se inaugura fecundável pela menarca em manifestações de água sangreal vermelha; e ora como velha, já se encerrando como a beleza da flor que se despede, com descargas hormonais, que a lembram de tempos áureos em que em seu útero gerava muitas sementes, frequentemente gestáveis, encaminhadas pela criatividade orgânica que a sabedoria do corpo intui.

Da mesma forma como a água integrada na Mãe-Terra, que sob influência do Sol, passa por transformações terrenas, o sangue da mulher também passa por momentos que, da mesma forma que as estações do ano, podem nos contar sobre nossas emoções. O sangue muda de cor; ora leite, ora sangue, ora líquido amniótico, ora lágrimas. Há uma constante estabilidade mutável que mantém um sistema de sentires que são a especificidade do corpo feminino.

Se vemos no papel da bruxa uma possibilidade de ampliar o espectro do entendimento da natureza do feminino, pensar na etimologia da palavra, ainda que seja incerta, auxilia no contato sensível do significado dessa figura de maneira menos preconceituosa do que cotidianamente estamos acostumados até hoje. Sua origem tem, por exemplo, no registro italiano, proveniência em brucia, que significa queima – que em lugar de nos fazer adotar a ideia de destruição aleatória, podemos pensar no sentido de transmutação de si, tal como uma fênix que renasce transformada no fim de um processo de criação.

A bruxa também tem afinidades de significação com a imagem da larva de borboleta e, como tal, nos dá a possibilidade de pensar que a sequência de seus ciclos naturais, por si só, já oculta importantes lições de vida: casulo, crisálida, lagarta e borboleta; assim o é o comportamento lunar igualmente com quatro fases: nova, crescente, cheia e minguante. E é conectado a esse potencial de transformação numa mesma vida em diferentes fases que poderíamos tirar do exílio a bruxa que nos habita sempre que tentamos ser quem somos da maneira mais autêntica que conseguimos, todos os dias e com todas as variantes que precisamos nos tornar e desfazer no cotidiano.

Pensar na bruxa como um acolhimento da borboleta em nós que também poderia ser, segundo a necessidade solar ou lunar, uma mariposa; com uma humanidade que se alimenta alternadamente de seiva de flores ou excrementos porque acessa o cerne que precisa de nutrição para amadurecer.

 

2. A mulher selvagem e suas escavações físicas da alma

A bruxa, tal como ciclo de amadurecimento da mulher selvagem e etapa final de compreensão profunda do feminino, é uma energia concentrada e paradoxal: um arquétipo, o da sábia, que tenta conciliar extremos que só são possíveis na experiência da alma, mas não são tão mensuráveis e nem tampouco repassáveis para outrem: cada uma vivencia a totalidade da experiência de maneira singular e a significa segundo a complexidade de sua personalidade.

Uma precisa definição e de simples compreensão sobre esse conceito está em Qualls-Corbett (1990), que aponta:

 

“Arquétipo é uma forma preexistente que integra a estrutura herdada da psique comum de todas as pessoas. Estas estruturas psíquicas são dotadas de forte densidade emocional. O arquétipo, como entidade psíquica, é envolvido por energia que possui a capacidade de ativar e transformar conteúdos conscientes. Quando o arquétipo é constelado, isto é, ativado, a liberação dessa energia específica é reconhecida pela consciência e sentida no corpo através de emoções. Assim, por exemplo, quando o arquétipo da deusa do amor é constelado, ele nos imbui da vitalidade do amor, da beleza, da paixão sexual e da renovação espiritual”[2].

 

E, da mesma maneira que todos os arquétipos que reúnem forças criativas paradoxais desde muito tenra idade, tanto a bruxa – quando vivenciamos com integridade  tudo o que uma ancestral feminina com vasta experiência nos proporciona – quanto a mulher selvagem estão na relação afetiva que vivenciamos na experiência que a natureza e seus conteúdos diversos nos proporcionam, seja de desafios, como de acolhimento, alternando ciclos de vida e morte, seja de criação ou do entendimento mais profundo do que é o amor como ampla experiência de contradições a serem superadas para além da aceitação ou rejeição. O amor como vitalidade. Porque, apesar de não conseguirmos nominar em consciência plena, essa força aí está como avó, como mãe de nossa mãe, como madrasta, como Baba Yaga e Vasalisa[3], num mesmo psiquismo dinâmico que se faz e refaz no lidar como tudo que é feminino e diverso, de fato como energia criativa do inconsciente que potencializa nossa autenticidade e para além de estereótipos já dados.

Pois que, tal como com tom confessional nos alerta este elucidativo trecho da obra de Éstes (1994), em que a autora cria o conceito de Mulher Selvagem:

 

“Embora eu não a chamasse por esse nome na época, meu amor pela Mulher Selvagem começou quando eu era pequena. Eu era uma esteta, não uma atleta e meu único desejo era o de perambular em êxtase. A mesas e cadeiras, eu preferia o chão, as árvores e as cavernas., porque nesses lugares eu sentia como se pudesse encostar no rosto de Deus”[4].

 

O que indica, claramente, que o sentido de sobrevivência, independente da lógica vigente de poder; que o conectar-se a um sentido de viver que potencializa nossa superação ao que vamos nos familiarizando diariamente, é o que nos faz sentir a experiencia da e com a vitalidade, sem deixá-la passar no automático – ativando em nós a capacidade de surpreender-nos. Profundidade ao perambular, potência de trânsito: doar-se em reinvenção, no auge de alguns conflitos – poder assumir-se lúcida em crise e com seu poder de escolha por causa dela.

Quero dizer que, independente de estarmos vivenciando um período matriarcal ou patriarcal, é preciso sempre sobreviver: tudo tem seu preço, nada vivenciado cumpre o ideal, esbarramos em contradições paradoxais o tempo inteiro. E, nesse caso específico, há um rastro que foi realmente escavado e encontrado, que nos indica essa necessidade de sobrevivência: a estatuária pré-histórica das Vênus.

Ao mesmo tempo que as estátuas pré-históricas, as Vênus de Willendord, além de serem indício de uma sociedade que primava por respeito aos ciclos, ao entendimento de outros ideais de beleza e de liderança feminina, elas também nos levam ao desdobramento daquilo que chamamos os rituais da prostituta sagrada – e esta é uma contradição. Este era justamente o sacrifício paradoxal cobrado do poder feminino em tempos remotos, talvez há mais de 30 mil anos e que é a parte do matriarcado que idealizamos até hoje.

 

Vênus de Willendorf, calcário oolítico e giz vermelho, 11 cm de altura, Paleolítico (cerca de 29.500 a.C.). Conservada no Naturhistoriches Museum, Viena, Áustria. Disponível em: https://artrianon.com/2021/04/06/obra-de-arte-da-semana-venus-de-willendorf/

 

Da mesma forma que existia a exaltação religiosa desse poder criativo da gama diversa do gerar feminino, também, paradoxalmente, todas as mulheres, uma vez na vida, deveriam oferecer seu corpo para qualquer homem que o quisesse possuir, no templo da Grande-Mãe: era uma forma de vivenciar o papel de sacerdotisa dos templos de reverência à Deusa.

Esse aspecto paradoxal pode aproximar o papel da bruxa ao de todas as sacerdotisas em diferentes contextos, desde a Senhora do Lago até Cassandra, a sibila mais famosa que conhecemos com dons proféticos. Da mesma maneira, podemos aproximar Hécate, deusa grega que faz a travessia do deserto e que é conduzida e guiada por Cérbero, o cachorro de 3 cabeças, com as Moiras, as velhas que fiam o tecido da vida de cada ser humano e decidem quem vai morrer e quem vai viver – e quando.

Quando observamos especificamente o aparecimento dessa figura no tarô, oráculo antigo de imagens e histórias, o arcano maior da Sacerdotisa também é uma mulher que se envolve com os saberes de forma profunda, tal como algumas freiras da História, que gostavam de estudar e não tinham outra forma de fazê-lo que não seguir a carreira religiosa, é um portal de conhecimento contínuo e apresenta incessante espírito investigativo, pois o livro que carrega também pode ser o registro de várias encarnações e tudo que ali foi aprendido. Sabe do seu poder e está liberta de condicionamentos, no sentido que tem coragem de vivenciar a sua própria liberdade através da verticalidade de sua escolha pessoal perante o conhecimento ancestral – um traço marcante de mulheres que se estabelecem independentes, principalmente no sentido emocional. Tem suas regras, potencialidades e sombras. Como analisa o cineasta e estudioso do tarô, Jodorowski (2012):

 

“A Papisa se refere frequentemente a um personagem feminino, a mãe ou a avó, que tem transmitido um ideal de pureza ou uma frieza normativa. É comum encarnar a mãe fria. A mulher sem sexualidade, que encontra seu propósito numa moral ou ideal religioso, que não sabe ser delicada. Mas seu ideal de pureza também pode indicar uma mulher de elevado tamanho espiritual, uma sacerdotisa, uma terapeuta, uma guia, seja qual seja sua idade. No amor, a Papisa está disposta a formar uma parceria baseada na união de alma”[5].

 

Versões da Papisa (sacerdotisa) em diferentes baralhos de tarô. Disponível em: https://images.app.goo.gl/mrjxriqK6gZZfKLb6

É com esse olhar arquetípico e ampliado que o diálogo do universo da sacerdotisa com o cinema se instaura. É importante lembrar que o termo “papisa” também deflagra a influência cristã, e nesse sentido, colonizadora que se sobrepôs às culturas pagãs. Aqui, iremos analisar brevemente alguns olhares lançados pelo cinema sobre essa figura tão potente de sentidos e significados.

 

3. Häxan: a feitiçaria através do cinema

Häxan – A Feitiçaria Através dos Tempos (1922)[6], dirigido por Benjamin Christensen, é um filme de horror mudo sueco que apresenta, de maneira ensaística – documental e, ao mesmo tempo, visionária – as raízes históricas das superstições envolvendo a figura da feiticeira, começando na Idade Média e chegando no século XX. O filme feito de forma criativa, misturando a linguagem do documentário com recriações de cenas descritas. É um filme bastante artesanal e ousado para a época, no que se refere à linguagem da época. Ao final do filme, o diretor apresenta o seguinte questionamento que, apesar de longo, optamos por transcrever na íntegra, dado a importância de sua mensagem:

 

“Séculos se passaram e o Todo Poderoso dos tempos medievais já não se senta na décima esfera. Já não ficamos nas igrejas olhando aterrados para os afrescos com figuras de demônios. A bruxa já não voa mais em sua vassoura sobre os telhados. Mas, a superstição ainda não permanece entre nós? Há alguma óbvia diferença entre as bruxas e seus clientes, antes e agora?  Já não queimamos as velhas e pobres. Mas, elas frequentemente não sofrem amargamente? E a pequena mulher aquela que chamamos de histérica, só e triste. Não é ainda um mistério para nós? Nos dias de hoje, nós prendemos as infelizes em hospícios, ou se for rica, em modernas clínicas. E então nos consolamos com a ideia de que a água levemente aquecida do chuveiro na clínica substituiu os bárbaros métodos da Idade Média”[7].

 

Tal como mostra o filme, o papel da bruxa da Idade Média já teve vários motivos de existência social. Ele podia cumprir a função de punir mulheres pensantes que poderiam ameaçar o sistema, de livrar-se de mulheres velhas, de dar lugar oficialmente marginal para mulheres solteiras com filhos bastardos ou cujos maridos foram vítimas da guerra, ou simplesmente de solucionar o problema de não saber o que fazer com pessoas do sexo feminino que apresentavam sintomas inexplicáveis de comportamentos que eram inconvenientes para a sociedade.

Também claramente o diretor descreve o quanto a concepção de mundo e o avanço da ciência configura essa perseguição, no sentido de explicar de outras formas o que antes era visto como mistério, dando à Igreja o poder de definir o que não era a vontade de Deus, mas tinha dinâmicas específicas de funcionamento com leis do universo.

Para Éstes (1999), esse desrespeito com tudo que com a Mulher Selvagem tenha a ver parece ser mais antigo e se manifesta em como a sociedade trata a mulher sábia, que não possui mais atributos de valor cultural, pois está em uma categoria que pouco sabemos tratar como bem cultural: a mulher velha. Assim, a autora pontua:

 

“Não é por acaso que as regiões agrestes e ainda intocadas do nosso planeta desaparecem â medida que fenece a compreensão da nossa própria natureza selvagem mais íntima. Não é tão difícil compreender por que as velhas florestas e as mulheres velhas não são consideradas reservas de grande importância. Não há tanto mistério nisso. Não é coincidência que os lobos e os coiotes, os ursos e as mulheres rebeldes tenham reputação semelhantes. Todos eles compartilham arquétipos instintivos que se relacionam entre si e, por isso tem a reputação equivocada de serem cruéis, inatamente perigosos, além de vorazes[8].

 

Ao mesmo tempo, Christensen também aponta a falta de disponibilidade da sociedade de lidar com zonas contraditórias, dizendo que ser velha e feia, na Idade Média, era tão perigoso quanto ser jovem e bonita, pois ambas corriam o risco de serem mal interpretadas como bruxas e irem para a fogueira. Ele também destaca o quanto tudo que é incompreensível e, por isso mesmo, incompreendido, traz contradições. Ao invés de colaborar para ampliarmos a gama de diferentes personalidades e maneiras como reagimos a momentos difíceis, fazendo uso de alternativas atípicas, mas que compõem uma tentativa de nos equilibrarmos, a sociedade, para tentar facilitar a dinâmica do cotidiano, prefere chamar os comportamentos desviantes de loucura e isolar as pessoas que os apresentam ao invés de acolhê-lo pela manutenção da criatividade. Justo o que poderia ser uma fonte de mergulho psíquico para conhecermos nosso psiquismo, e a forma como ele tem infinitos recursos de compensação de sofrimentos comuns entre as pessoas de uma mesma época, é visto de maneira negativa.

Com o decorrer do tempo, parece que desde 1922 pouca coisa mudou no sentido de marginalizar aquilo que é o conteúdo sombrio da Mulher Selvagem e que não estamos prontos para nominar e dar um lugar de importância do conhecimento necessário do aprender a envelhecer e, consequentemente, aprender a morrer, isto é, fenecer em decomposição da vitalidade da utilidade social. Isso parece ser, da mesma maneira, uma completa inabilidade de refletir sobre o próprio percurso e compreender as próprias decisões das escolhas no decorrer da vida.

Dessa forma, não há espaço para revisão de procederes e muito menos para possíveis fracassos como fonte de revitalização dos percursos criativos que nos colocamos como desafio desde o início da vida, desde muitos anos. Nesta perspectiva, a fragilidade não é encarada potência e nem tampouco fonte de aprendizagens. Morrer é o fim de tudo que é útil, perdendo toda sua fonte de desenvolvimento espiritual partilhável passível de transmutação.

 

4. Brumas de Avalon: a importância do ritual em si

O filme As Brumas de Avalon (2001)[9], dirigida por Uli Edel, baseada na obra homônima escrita por Marion Zimmer Bradley, conta a histórias das mulheres que passam pela vida de Rei Arthur. Desde sua mãe, Igraine, até sua meia-irmã, a sacerdotisa Morgana, sua tia Viviane, a Senhora do Lago, e sua esposa Guinevere. Nesta versão, acompanhamos um outro lado da história, tanto a partir da perspectiva feminina, quanto da mítica pagã: o olhar é o do feminino.         Há uma cena de particular importância para a discussão que propomos aqui: a Festa de Beltane. Nessa cena, a personagem Morgana faz a seguinte declaração:

 

“Em dias, seguindo as ordens de Viviane fui participar de um rito de fertilidade, a festa de Beltane, a cerimônia que ela chamava de Casamento Sagrado. A quem eu seria dada eu não sabia, mas Viviane me assegurou que o futuro de Avalon dependia de que eu fizesse o papel da Donzela Caçadora e que meu parceiro seria o homem que mataria o Gamo Rei[10]”.

 

A Festa de Beltane é uma cerimônia celta que acontece em formato de ritual como agradecimento da colheita dos alimentos de forma cíclica, marcando o meio do caminho entre o equinócio da primavera e o solstício de verão, para a cultura celta. Esse ritual guarda similitudes ideológicas com a celebração da oferenda da prostituta sagrada, no sentido de tornar o ato corajoso da entrega de uma intocada sacerdotisa ao ato sexual com um desconhecido como sacrifício ao Sagrado Feminino. A legitimação desse Casamento Sagrado é símbolo do que deve prosperar como fertilidade.

A cena na qual ambos estão mascarados, ritualizando as energias masculina e feminina, opostas complementares, sem polarizá-las, auxilia no entendimento de que, num ritual, o que está em jogo é uma força do inconsciente que pertence ao coletivo. As energias estão sendo encaminhadas em prol de algo maior: a sobrevivência de uma comunidade. Não é o amor romântico individual que está sendo manejado ali, mas sim a união dos indivíduos para o bem comum, no sentido de restaurar a existência de cada coisa no universo com a sua devida e insubstituível importância, tornando-se um bem comum.  O entendimento se dá na experiência com o que vibra e tem sentido coletivo para a sobrevivência daquela comunidade como um todo, na celebração da fertilidade consumada, na entrega de dois indivíduos que se tornam anônimos, entregando-se ao alinhamento daquelas energias sem a presença da competição, mas de sua complementação harmônica e necessária em suas qualidades e especificidades em conjunção, sem moralizações desnecessárias.

E ainda que no filme, houvesse outros interesses políticos nessa união específica, a força criativa do ritual não é afetada no sentido dessa comunhão energética mágica ao que se refere à intenção ancestral do ato comunitário da festa.

 

5. 300: a sibila e o papel de sacerdotisa

O filme 300 (2006)[11], dirigido por Zack Snyder, se tornou uma referência pelo tipo de escolha estética que apresentou como solução na batalha de Termópilas, em que o Rei Leônidas de Esparta, junto com 300 soldados, luta contra Xerxes e o gigante exército persa. Um mundo que valoriza o mundo masculino, não fosse por um detalhe: a importância da sacerdotisa e o papel da intuição dada por conexão espiritual com o mundo do invisível no conflito. Eis o que afirma um dos sacerdotes do Templo de Delphos:

 

“Iremos consultar o Oráculo. Velhos místicos enfermos, restos inúteis do tempo em que Esparta cultivava a escuridão, restos de uma tradição sem sentido, mesmo Leônidas não pode descartar. Bem, ele deve respeitar as palavras dos espíritos é a lei. Um súdito ou cidadão espartano, homem ou mulher, escrava ou rei não está acima da lei[12]”.

 

Era costume que os líderes de exército e os imperadores consultassem oráculos antes de partir para a guerra, como confirmação de que a estratégia que haviam pensado era protegida pelos deuses: era como tomar a benção para que tudo desse certo. As mensagens oraculares nem sempre foram, no sentido literal, tão claras, pois compunham conteúdos enigmáticos e, tanto através de aconselhamentos antes do combate, quanto da prática de interpretação de sonhos, são conhecidos os equívocos referentes às mensagens recebidas.

No entanto, o que no filme é representado como dinâmica interna revela o como os gregos lidavam com os rastros dos hábitos que um dia haviam sido práticas de respeito com as facetas da Deusa, pelo culto à Grande-mãe. A consulta ao oráculo era, com certeza, uma delas.

Havia uma figura importante, um tipo de sacerdotisa, a sibila, que era a mediadora da consulta direta, falante de outra língua, por estar em outro estado de consciência, que passava por preparações especiais, tal como ser virgem e ter práticas específicas de alimentação, para poder canalizar as mensagens intuitivas que recebia dos espíritos com a aprovação da Grande- Mãe. Tudo só funcionava como uma integração energética válida quando, em transe, ao receber as mensagens, um sacerdote, ou seja, uma energia masculina, traduzisse o que ela recebia, para assim ser repassado como aconselhamento.

 

6. Oráculo e os conselhos dentro da Matrix

O filme Matrix (1999)[13], dirigido pelas irmãs Wachowski, foi revolucionário em sua estreia. Considerado um dos maiores marcos do cinema da virada do século XX, o filme conta a história de Neo, um personagem que acaba descobrindo que o mundo que vive é uma farsa criada por computadores que mantém os humanos em estado de inconsciência. Ele se une a um grupo revolucionário que pretende fazer a humanidade acordar de seu sono profundo.

Uma personagem que apresenta papel fundamental na construção desse universo pelas máquinas é a Oráculo. Ela compreende que as ações humanas são baseadas em escolhas e, ao nos permitir a ilusão de uma decisão que parece autoral, as máquinas nos manteriam dentro do mundo criado por condicionamentos mais do que previsíveis. Em um dos diálogos fundamentais entre Neo e a Oráculo, há a seguinte afirmação:

 

“Oráculo – Eu não seria um oráculo se não soubesse.

Neo – Mas se você já sabe, como posso decidir?

Oráculo – Você não veio aqui para tomar uma decisão: você já decidiu. Está aqui para tentar entender a sua decisão[14]”.

 

Oráculo vem da palavra “oração” e não da palavra “adivinhação”; e, desde tempos muito remotos, se manifesta por formas de pactuar desejos e dúvidas mentalmente com fatores externos que revelem uma confirmação do que estamos sentindo e intuindo. Entre as formas mais primárias, podemos pensar em jogar uma moeda para escolher cara ou coroa como resposta a uma inquietação pessoal; outra forma é pactuar com a manifestação do acontecimento de uma chuva, que ameaça vir ou não, ou que permanecer constante para decidirmos ou não sair de casa para algum evento.

O protagonista Neo compara o princípio do oráculo com um programa e sua personagem de cena confirma que quando animais, tal como pássaros, tem comportamentos previsíveis, porque instintivos, eles estão correspondendo a programas previstos dentro dessa lógica de realidade chamada encarnação.

O filme Matrix aproxima oráculos com a importância de sonhos, tornando o guia espiritual do personagem principal, o mestre dos sonhos, Morfeu; e aponta assim, a intuição como possível caminho de exercício de previsibilidade.

Aproximando a presença de imagens oníricas de tais componentes da narrativa, também equilibra energeticamente a energia feminina com a masculina. No filme isso é feito quando o papel da personagem Oráculo na narrativa é explicado por Morfeu; também ocorre o mesmo quando a própria Oráculo lhe prevê, adiantando a situação em que o Morfeu lhe oferece duas pílulas, convidando para a escolha de duas distintas realidades, universos ou planos de existência ou consciência.

Igualmente, da mesma forma que nos outros filmes já pontuados, a personagem Oráculo se apresenta na dimensão de sacerdotisa que media mundos – é uma releitura dessa força feminina autorreguladora da psique. É o feminino intuitivo que não pode ser negado e que precisa ser respeitado, porque existe, ainda que as crenças se modifiquem, e porque há coisas que acontecem que não sabemos explicar linearmente.

 

7. A pergunta certa é a feita para as bruxas

No conto de Vasalisa, existe um momento em que uma menina faz algumas perguntas à bruxa Baba Yaga, às quais ela reponde com importância cíclica a cada uma; refletindo cada fase do processo alquímico de transformação da matéria. Então, quando ela se refere a cada um dos cavaleiros – branco, vermelho e negro –, refere-se a fases da vida a serem vividas uma de cada vez como um processo que tem suas etapas específicas de transformações que correspondem à natureza específica das aprendizagens.

A boneca que Vasalisa ganha no início da história como presente da mãe, que está no seu leito de morte, é uma metáfora de que ela deve seguir e confiar na sua própria intuição. Por isso, ela instruiu a filha a consultar a boneca em caso de dúvida, pois ela lhe dirá o que fazer: no fundo sempre sabemos o que é bom para nós; e, se não soubermos, é porque é preciso vivenciar alguma lição importante para amadurecermos. A boneca também pode dimensionar o poder transitório e temporário de um corpo: as marcas das experiências no decorrer das fases não significam apenas que foi o tempo passou, mas que ficamos mais experientes e sábias em relação ao nosso próprio querer de existência e propósito de vida. O autoconhecimento restaura a alma de seu próprio desgaste, bem como encontramos propósitos altruístas que são aplicados ao bem comum. Essa é a verdadeira fórmula da juventude, a que não se pauta na aparência, mas legitima as dores de outras mulheres a partir de nós mesmas e diminui o sofrimento, porque partilhamos o que foi compreendido.

Se iniciamos com a Vênus pré-histórica como um rastro arqueológico da importância histórica de integrar a feminilidade e terminamos resgatando a boneca de Vasalisa, a pergunta certa de espírito investigativo que aqui, no caso do papel da bruxa, pode ser instigante é: onde sobrevive o feminino que foi exilado desde tempos remotos afinal? E onde está a medida de tudo isso que move o conhecimento não comportado, mas, ao mesmo tempo, faz as discussões e práticas sociais sobre respeito mútuo avançarem, pois estão acontecendo com o tempo de maturação orgânica das coisas? Que parte da força criativa da mulher discorda porque é fértil e não porque está ferida reproduzindo gatilhos que não integraram a natureza também receptiva e saudável do feminino? Isso se percebe neste trecho do conto em que a bruxa Baba Yaga conversa com a menina:

 

“- Vamos, vamos criança. Não quer me fazer mais perguntas? – sugeriu a Yaga, manhosa.

Vasalisa estava a ponto de perguntar sobre os pares de mão que apareciam e desapareciam, mas a boneca começou a saltar dentro do seu bolso e, em vez disso, Vasalisa respondeu.

– Não, vovó. Como a senhora mesma diz, saber demais pode envelhecer a pessoa antes da hora”[15].

 

Envelhecer como fase a ser vivida com dignidade, porque o coletivo valida a ancestralidade. Envelhecer, porque sabemos que nossos sacrifícios estão conectados a um princípio de gratidão que não permitirá que o mesmo sofrimento se repita sem o devido acolhimento. Envelhecer, porque adquirir maturidade será para que os nossos descendentes não precisem passar pelas mesmas problemáticas da mesma forma, porque aprendemos algo com o que nos desafiou e não precisamos invejar a prosperidade dos que virão. Porque isso indica que algo por nós foi superado e outras aprendizagens têm abertura para ocorrer. Será que sabemos, a partir desse movimento de generosidade, fazermos as perguntas certas para cada fase da vida nas próximas etapas? Será que conseguimos nos surpreender positivamente com as soluções que mulheres vindouras darão para as nossas perguntas? Será que as próximas mulheres conseguirão fazer estas mesmas perguntas sem invalidar nossos sacrifícios feitos em nome da criatividade de quem vem depois? Se cada corpo tem sua qualidade e potência, como podemos lidar com ele de forma orgânica validando nosso poder intuitivo relativo a cada momento da vida sem que a culpa nos consuma? Como integramos nossa sombra de forma que não separemos o bem e o mal; como aprendemos com a vida entendendo que ela é um processo de natureza contraditória? Como estar no mundo acreditando plenamente que as aprendizagens têm direito à experiência singular, ainda que sendo capazes de honrar um coletivo que veio antes?

Envelhecer com lucidez, tornando a criatividade uma companheira constante, em lugar de aproximar o papel da mulher independente ao lugar intransferível de louca. Aprender a respeitar o lugar de solidão da mulher que existe dentro de cada uma de nós apesar dos homens e se entende por um contraponto saudável da diferença também por causa deles

Pois se algumas respostas as encontramos na intimidade que, infelizmente associa a loucura à liberdade, Koltuv (1986) aponta que:

 

A desconexão é necessária à introjeção e integração de Lilith. Sozinha, na cabana menstrual, uma mulher pode refletir a respeito de suas feridas, lamber seu próprio sangue e tornar-se curada e nutrida. Há uma fria lógica lunar para a periódica necessidade feminina de fugir para o deserto, para o pântano e para a solidão. Na escuridão da Lua, ali no deserto, distante das críticas e formas tradicionais, a mulher pode entrar em contato coma elementar natureza feminina em seu, o que tende a ocasionar um processo natural de cura[16].

 

Em lugar de punir, dar ao feminino o lugar de merecimento, toda mulher como pessoa que convive com a morte e seus ciclos. Que, ao mesmo tempo que dá a vida, vivencia periodicamente uma intimidade com a morte, traçando estratégias intuitivas de convivência com o fim dos tempos em seu próprio corpo periodicamente. Loucura desterritorializada como processo de entendimento interno e subversivo, ainda que temporariamente; e não o exílio do próprio poder pessoal que se fortalece pela autenticidade perante a criatividade de refazer-se através da ancestralidade feminina.

 

Referências

  1. Christensen, Benjamin. Häxan: feitiçaria através dos tempos, 1922.
  2. Edel, Uli. Brumas de Avalon, 2001.
  3. Éstes, Clarissa Pinkola. Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
  4. Jodorowski, Alejandro. La vía del tarot. Buenos Aires: Debolsillo, 2012.
  5. Koltuv, Barbara Black. O livro de Lilith. São Paulo: Cultrix, 1986.
  6. Qualls Corbett, Nancy. A prostituta sagrada: a face eterna do feminino. São Paulo: Paulus, 1990.
  7. Snyder, Zack. 300: a ascensão do império, 2007.
  8. Wachowski, Lana e Wachowski, Lilly. Matrix., 1999.

 

Notas

[1] Luís de Camões, na voz de Renato Russo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6rjXkXpX8Wk Acessado em 20 de maio de 2024.
[2] Nancy Qualls Corbett, A prostituta sagrada: a face eterna do feminino, ed. cit., p.17.
[3] Baba Yaga e Vasalisa são personagens de um conto russo, exploradas na obra de Clarissa Pinkola Éstes, Mulheres que correm com lobos. O conto se chama “Vasalisa, a sabida”.
[4] Clarissa Pinkola Éstes, Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem , ed. Cit., p. 17.
[5] Alejandro Jodorowski, La vía del tarot, ed. cit., p.160.
[6] Disponível em: https://www.imdb.com/title/tt0013257/?ref_=ext_shr_lnk:  Acesso em 25 jul. 2024.
[7] Questionamentos do diretor Christensen, expressos na dramaturgia final do filme Häxan – A Feitiçaria Através dos Tempos. Filme disponível em: https://m.youtube.com/watch?v=Xg-vjfIAyn8  Acesso em 25 jul. 2024.
[8] Clarissa Pinkola Éstes, Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem , ed. Cit., p.15.
[9] Disponível em: https://www.imdb.com/title/tt0244353/?ref_=ext_shr_lnk  Acesso em 25 jul. 2024.
[10] Fala de  Morgana, sacerdotisa celta e irmã do Rei Artur. Trecho do filme disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=B3vVYcAvQQ8  Acessado em 22 de maio de 2024
[11] Disponível em: https://www.imdb.com/title/tt0416449/?ref_=fn_al_tt_1  Acesso em 25 de julho de 2024.
[12]  Fala dos sacerdotes do Templo de Delphos em aconselhamento a Leônidas. Tradução nossa do trecho do filme disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=BFsD0DdRJWw  Acessado em 23 de maio de 2024
[13] Disponível em: https://www.imdb.com/title/tt0133093/?ref_=ext_shr_lnk  Acesso em 25 jul. 2024.
[14] Um dos diálogos, tanto esclarecedores quanto enigmáticos, entre esses dois personagens no filme Matrix. Trecho do filme disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TyziRbCUgow  Acessado em 19 de maio de 2024
[15] Clarissa Pinkola Éstes, Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem , ed. Cit., p. 105.
[16]Barbara Black Koltuv, O livro de Lilith, ed. cit., p. 45.