Jung e a escrita em espelho: o mito do mago-menino

Legenda: L’Atmosphere – Météorologie Populaire, 1888. Autor: Camille Flammarion. Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:C._Flammarion_-_Universum_-_Paris_1888_-_Colored_Heliocentric_Panorama.jpg

Resumo: No capítulo de abertura do livro “Memórias, sonhos, reflexões”, o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung narra suas memórias de infância adotando uma perspectiva na qual a criança apresentada se revela como uma projeção do velho sábio, que lança seus anos de estudo e experiência na narrativa. Assim, ele incorpora na escrita a sentença hermética mais célebre (“aquilo que está embaixo é como aquilo que está em cima”), tomando a infância como um espelho da velhice. Tal como o mundo inferior reflete o superior, também a infância reflete a velhice, de forma que as duas pontas da vida terminam por se tocar, fechando o círculo hermético. No decorrer deste artigo, analiso como o autor aplica esse conhecimento da doutrina hermética na construção de sua persona memorialística.

Palavras-chave: infância; hermetismo; Jung; memórias; mago; menino

Abstract: In the opening chapter of the book “Memories, dreams, reflections”, the Swiss psychiatrist Carl Gustav Jung narrates his childhood memoirs, adopting the perspective in which the presented infant revels itself as a projection of the wise old man, who launches years of experience and studies into the narrative. Therefore, he incorporates in his writing the most iconic hermetic sentence (“what is below is like what is above”), taking the childhood as a mirror to the old age. Such as the inferior world reflects the superior, closing the hermetic circle. Throughout this article, I propose an analysis of how the author applies this knowledge of the hermetic doctrine in the construction of his memorialistic persona.

Keywords: child; infance; hermetism; Jung; memoirs; mage.

 

Verdadeiro, sem falsidade, certo e mais do que real, aquilo que está embaixo é como aquilo que está em cima, e o que está em cima é como o que está embaixo para cumprir as maravilhas de uma coisa. Assim como todas as coisas são criadas de uma coisa, pela vontade e comando do único que a criou, assim todas as coisas são nascidas desta única coisa por prescrição e união. Seu pai é o Sol, sua mãe a Lua, o vento a carrega em seu ventre, sua ama é a Terra. Este é o pai da perfeição em todo este mundo. Seu poder é perfeito quando transformado em terra; por isto, deves separar a terra do fogo, e o sutil do rude e grosseiro, mas com amor, com grande compreensão e discernimento. Ela sobe da terra ao céu e do céu vem novamente à terra e de novo recebe o poder do Em Cima e do Embaixo. Deste modo, terás o esplendor de todo o mundo. Toda falta de compreensão e de capacidade te abandonará. Este é o maior de todos os poderes, pois pode sobrepujar toda a sutileza e pode penetrar tudo que é sólido. Assim foi criado o mundo. Assim se originaram raras combinações e maravilhas são forjadas; esta é a maneira de agir. Por isto sou chamado Trismegisto, pois possuo as três partes de sabedoria do mundo. Tudo que eu disse a respeito do trabalho do Sol está cumprido.

Alegoria da Tábua de Esmeralda, Corpus Hermeticum

A sentença contida na Tábua de Esmeralda revela o princípio de correspondência, um dos quatro princípios da doutrina hermética, que alude à harmonia existente entre os diferentes planos de manifestação, vida e existência. Segundo tal princípio, tudo o que existe no Universo emana da mesma fonte e segue as mesmas leis, que se aplicam a cada unidade, ou combinação de unidades de atividade, unidas para realizar o grande propósito: fazer a vontade de Deus.

Podemos observar uma analogia entre o princípio da correspondência e os conceitos de macrocosmo e microcosmo. O primeiro representa o grande mundo, o cosmo, e o segundo, o pequeno mundo, o homem. Assim, tal como o cosmo é engendrado à imagem de Deus, o homem é engendrado à imagem do cosmo.

Os iniciados nos mistérios herméticos consideram que esse princípio lhes fornece a chave de compreensão para os inúmeros paradoxos e segredos da natureza. Por meio dessa lei universal, o indivíduo estaria apto a rasgar o véu de Maya, superando os obstáculos que encobrem o Mysterium Tremendum e atingindo a essência do Pleroma[1], a mônada indivisível.

Os ensinamentos herméticos exerceram um grande fascínio sobre o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, que, não por acaso, incorporou à sua persona[2] o arquétipo do mago, o indivíduo que, por meio de encantamentos, media as relações entre o mundo do alto e o mundo de baixo, entre a coisa-em-si e o fenômeno, o espírito e a sexualidade. Jung assume integralmente tal papel quando une reflexão teórica à experiência da prática analítica e, sob outra perspectiva, conecta a rigidez empírica da ciência moderna às tradições ocultas, conciliando esferas que pareciam definitivamente separadas pelo tempo. Em nível arcano, ele realiza o objetivo máximo do Opus alquímico, a união de opostos, quando torna acessível ao indivíduo moderno os ensinamentos de escolas de mistério que, até então, soavam um tanto obscuros e desprovidos de significado visível para os não iniciados.

Na perspectiva de Jung, os verdadeiros alquimistas sempre compreenderam que o verdadeiro laboratório alquímico era o próprio indivíduo. O homem natural, preso às armadilhas do ego e do inconsciente pessoal, pode ser comparado aos metais vis, enquanto o novo homem, que ressurge purificado, representa o ouro, o mais nobre dos metais. É o homem interior (microcosmo) que desperta de seu sono no caos da matéria. Partindo dessa premissa, Jung define os alquimistas como os psicólogos da Antiguidade, cujo trabalho consistia, basicamente, na projeção de conteúdos psíquicos na matéria.

Na obra “Memórias, sonhos, reflexões”, pode-se observar, em quase todas as passagens, como Jung mimetiza na escrita o tema alquímico, destacando, por correspondência, o mago que vive na criança. O convencionalismo estilístico que adota nas linhas iniciais se revela, mais adiante, como uma hábil estratégia discursiva, que lhe permite colocar em prática seus objetivos quanto à construção da persona. Assim, ele começa o seu relato em estilo propositalmente paródico ao gênero, recordando suas primeiras tomadas de consciência, sensações e deslumbramento perante os fenômenos da natureza:

Surge aqui uma lembrança, talvez a mais remota da minha vida e que, por isso mesmo, não é senão uma vaga impressão: estou deitado num carrinho de criança à sombra de uma árvore. É um belo dia de verão, quente, céu azul. A luz dourada do sol brinca através da folhagem verde. A capota do carrinho está erguida. Acabo de acordar nesta radiante beleza e sinto um bem-estar indescritível. Vejo o sol cintilante através das folhas e flores das árvores. Tudo é colorido, esplêndido, magnífico.[3]

O paroxismo na descrição desse nirvana infantil é o ponto de partida do paradoxo que será revelado logo a seguir, pelo relato dos medos e angústias imprecisas que, frequentemente, o assolavam:

Nessa época eu sentia angústias vagas durante a noite. Aconteciam coisas estranhas. Ouvia-se incessantemente o estrondo abafado das quedas do Reno, toda a região em torno era perigosa. Homens se afogavam, um cadáver despencara do alto, sobre as rochas. No cemitério vizinho o sacristão cava um buraco revolvendo uma terra parada. Homens negros e solenes, de fraque, chapéus de uma altura incomum e sapatos pretos e lustrosos carregavam um caixão negro. Meu pai está presente, em seu traje de pastor luterano, e fala com voz ressoante. Mulheres choram. Parece que enterram alguém no fundo da cova. Depois certas pessoas que antes estavam entre nós subitamente desaparecem. Ouço dizer que foram enterradas, ou que o Senhor Jesus (i. do a.) as chamou para junto de si.[4]

Os sentimentos controversos que nutria à época em relação à figura do “Senhor Jesus” se relacionam, em primeiro plano, às restrições que Jung, enquanto autor, faz à covardia do pai, embora ele afirme que essa imagem já se encontrava formada desde muito cedo. Na realidade, a voz predominante é a do sábio, não a da criança, que se utiliza de toda sua experiência para construir o retrato do pai, que aparece como um pastor luterano estagnado numa condição intelectual medíocre, pois não encontrara coragem para buscar uma linha de desenvolvimento independente como ele, seu filho ilustre, o fizera. De acordo com Jung, seu pai não enfrentava as dúvidas religiosas que o atormentavam e temia as experiências religiosas imediatas, agarrando-se a uma fé obtusa e a dogmas cristalizados.

Jung se refere à crença do pai com nítido desprezo, decorrente da visão ingênua e inverossímil que os fiéis cultivavam a respeito da figura de seu ícone máximo: “O Senhor Jesus era confortante, um senhor afável e benevolente como o senhor Wegenstein do castelo: rico, poderoso, estimado, cheio de solicitudes para com as crianças durante a noite”. [5]

O enaltecimento frequente desses atributos luminosos era quase sempre acompanhado de uma omissão a respeito do lado oposto, sombrio, da figura sacra, manifestado principalmente pela relação de intimidade que possuía com a morte:

(D)iziam também que Senhor Jesus levava consigo outras pessoas e isso equivalia para mim a pô-las num buraco cavado na terra.

Essa conclusão sinistra, por analogia, teve conseqüências fatais: comecei a desconfiar do Senhor Jesus. Ele perdeu seu aspecto de grande pássaro benevolente e confortante e foi associado aos homens soturnos e negros, de fraque e cartola, cujos sapatos eram pretos e lustrosos e que se ocupavam com caixões negros.

[…] O ‘Senhor Jesus’ se me afigurava, não sei porque, uma espécie de deus dos mortos-protetor, uma vez que expulsava os demônios da noite, mas em si mesmo temível pois era um cadáver sangrento e sacrificado. Seu amor e sua bondade, incessantemente louvados diante de mim, pareciam-me suspeitos, pois aqueles que me falavam do ‘Bom Senhor Jesus’ eram principalmente pessoas de fraque negro, sapatos reluzentes e que sempre me lembravam os enterros […]. […] Nos anos que se seguiram, até a minha crisma, esforcei-me penosamente por estabelecer apesar de tudo uma relação positiva com Cristo, tal como esperavam de mim. Mas não conseguia superar a minha desconfiança secreta.[6]

A voz do sábio se faz ouvir novamente. O plano do alto não só espelha o de baixo como ocupa uma posição mais importante na hierarquia hermética. Por trás do assombro infantil, percebe-se, mais ou menos velada, a formulação de uma tese defendida com ardor pelo intelectual. Em diversos escritos, principalmente em “Aion” (1951), Jung analisa a figura de Jesus Cristo como um arquétipo incompleto da totalidade psíquica; menos incompleto do que o símbolo da Trindade, por ser portador de elementos masculinos e femininos, embora lhe falte a sombra[7], projetada num elemento externo, o Anticristo ou o diabo, o que resultou na visão dualista predominante no cristianismo.

Apesar das decepções na esfera da religião tradicional, o menino era fascinado pela ideia de Deus, ao mesmo tempo em que lamentava os injustos sofrimentos que os homens e os animais experimentavam em vida. Como um genuíno leitor de Schopenhauer, o menino-mago refletia sobre complexas questões metafísicas, especulando sobre a possibilidade de Deus haver criado intencionalmente um mundo repleto de contradições. Seu Deus não era o “deus” do cristianismo, mas uma poderosa força avassaladora que emanava tanto bem-aventurança como desespero e terror. Tais reflexões eram guardadas em absoluto segredo pelo pequeno iniciado, uma vez que seguiam um caminho bastante diferente daquilo que ouvia nos sermões da igreja ou em casa, nas conversas do pai com seus condiscípulos. Nesses momentos, a criança experimentava um sentimento profundo de solidão, constatando que havia algo que o tornava diferente e o separava dos demais.

As percepções da criança serão formuladas, posteriormente, nos “Sete sermões aos mortos” (1916). Trata-se de um pequeno texto elaborado em processo de escrita automática e atribuído, mediunicamente, ao sábio Basílides, gnóstico de Alexandria, a cidade onde Ocidente e Oriente se cruzam[8]. No decorrer do tratado, Jung apresenta ao leitor moderno uma figura mítica de um tempo esquecido, cujo nome é Abraxas, a divindade reverenciada pelos gnósticos alexandrinos como o governante supremo dos 365 céus: “É difícil definir a divindade de Abraxas. Seu poder é o maior porque o homem não o percebe de modo. Do Sol, o homem retira o summum bonum; do Diabo e também, o infimum malum, mas, de Abraxas, a Vida, totalmente indefinida, a mãe do Bem e do Mal”. [9]

Abraxas é um deus gnóstico, tendo sido adorado, sob outros nomes, por nativos da América. É luz e trevas, bem e mal, deus e demônio, princípios que, unidos, representam a totalidade da vida. Tal concepção do sagrado bate de frente com a lógica dualista da civilização cristã, que fracassou em seu projeto justamente por negar as sombras que toda luz projeta. Nos cultos pagãos, como os da Grécia e da Índia, os deuses polifacéticos representam a natureza de seus seguidores com mais fidelidade que os ídolos cristãos, dotados apenas dos aspectos positivos do arquétipo.

Abraxas é também o Homem Total (microcosmo) da tradição hermética e alquímica; a mítica pedra filosofal, cuja unidade resulta da união dos opostos extremos, pois “(s)em a vivência dos opostos não há experiência da totalidade e, portanto, também não há acesso interior às formas sagradas.”[10] No plano psicológico, o indivíduo teria completado sua individuação, atingindo o estado de totalidade psíquica. A pedra filosofal é homóloga ao self, o centro da totalidade, que, “[…] é uma imagem divina, e não se pode distingui-lo desta última. A concepção cristã primitiva já sabia disto, pois senão um Clemente de Alexandria jamais teria podido dizer que aquele que conhece a si mesmo, conhece a Deus”[11].

As experiências místicas vivenciadas pelo menino são iluminadas pelo sábio, que atribui à origem das religiões aos encontros com entes psíquicos (deuses, demônios, espíritos, etc.), fatores dinâmicos do inconsciente que se manifestam por meio de sonhos, visões e êxtases. Nessa perspectiva, o objetivo das religiões seria promover o encontro do indivíduo com o seu Homem Interior, representado nas memórias pela personalidade número dois do narrador.

Jung experimentou essa dimensão que une luz e sombra pela primeira vez entre os três e os quatro anos de idade, por meio de um sonho profético que lhe revela uma assombrosa divindade subterrânea:

O presbitério fica isolado, perto do castelo de Laufen, e atrás da quinta do sacristão estende-se uma ampla campina. No sonho, eu estava nessa campina. Subitamente descobri uma cova sombria, retangular, revestida de alvenaria. Nunca a vira antes. Curioso, me aproximei e olhei seu interior. Vi uma escada que conduzia ao fundo. Hesitante e amendrontado, desci. Embaixo deparei com uma porta em arco, fechada por uma cortina verde. Esta era grande e pesada, de um tecido adamascado ou de brocado, cuja riqueza me impressionou. Curioso de saber o que se escondia atrás de mim, afastei-a e deparei com um espaço retangular de cerca de dez metros de comprimento, sob uma tênue luz crepuscular. A abóbada do teto era de pedra e o chão de azulejos. No meio, da entrada até um estrado baixo, estendia-se um tapete vermelho. A poltrona era esplêndida, um verdadeiro trono real, como nos contos de fada. Sobre ele uma forma gigantesca quase alcançava o teto. Pareceu-me primeiro um grande tronco de árvore: seu diâmetro era mais ou menos de cinquenta ou sessenta centímetros e sua altura aproximadamente de uns quatro ou cinco metros. O objeto era estranhamente construído: feito de pele e carne viva, sua parte superior terminava numa espécie de cabeça cônica e arredondada, sem rosto nem cabelo. No topo, um olho único, imóvel, fitava o alto.

O aposento era relativamente claro, se bem que não houvesse qualquer janela ou luz. Mas sobre a cabeça brilhava uma certa claridade. O objeto não se movia, mas eu tinha a impressão de que a qualquer poderia descer do seu trono e rastejar em minha direção, qual um verme. Fiquei paralisado de angústia. Nesse momento insuportável ouvi repentinamente a voz de minha mãe, como que vinda do interior e do alto, gritando: — ‘Sim, olhe-o bem, isto é o devorador de homens!’ Senti um medo infernal e despertei, transpirando de angústia. Durante noites seguidas não queria dormir, pois receava a repetição de um sonho semelhante.[12]

Em seguida, ele tece uma comparação insólita entre o ser subterrâneo e Jesus Cristo. O movimento que funde Cristo e o monstro ocorre no tênue limiar que separa o brilho das alturas celestes do escuro domínio das trevas, um ponto onde a vida eterna do espírito se confunde com a putrefação do corpo mortal. Não é por acaso que Cristo, antes de ressuscitar e subir aos céus, precisou descer à mansão dos mortos, o mundo subterrâneo do Hades, repleto de vermes e criaturas das sombras.

Nesse momento compreendi como era pouco infantil, como era madura e mesmo excessivamente precoce a idéia que começava a insinuar-se em minha consciência por ocasião daqueles […] acontecimentos. Quem falava em mim? Que mente ideara esses acontecimentos?

[…] Quem propunha as questões supremas? Quem reunia o alto e o baixo, estabelecendo a base de tudo o que preencheria a segunda metade da minha vida de tempestades apaixonadas? Quem perturbava a tranqüilidade e a inocência com esse pesado pressentimento da vida humana, a mais madura? Quem, senão o hóspede estrangeiro, vindo do alto e do baixo?

Este sonho de criança iniciou-me nos mistérios da Terra. Houve nessa época, de certa forma, de certa forma, uma espécie de catacumba onde os anos se escoaram até que eu pudesse sair de novo. Hoje, sei que isto aconteceu para que eu pudesse sair de novo. Hoje, sei que isto aconteceu para que a mais intensa luz possível se produzisse na obscuridade. Foi como que uma iniciação no reino das trevas. Nessa época principiou inconscientemente minha vida espiritual.[13]

O mistério do sonho infantil só seria decifrado muito depois: “Somente cinquenta anos mais tarde deparei, surpreendido, com a passagem de um comentário acerca dos ritos religiosos, cujo tema fundamental era o da antropofagia no simbolismo da comunhão. […] A significação abstrata do falo é assinalada pelo fato de que o membro em si mesmo é entronizado da maneira ictifálica ([…] ereto). A cova na campina representava sem dúvida um túmulo”.[14]

O indivíduo que decifra é um espelho do Criador, tal como a terra é espelho do céu. A alma do homem guarda uma marca divina a ser decifrada. É por isso que Paulo, na Epístola aos Gálatas, afirma que a aterrorizante imensidão do cosmos não passa de uma ilusão, um reflexo exterior de nossos próprios abismos espelhados no céu. Se enxergamos as estrelas é porque, de algum modo, elas existem em nós. Quando direcionamos nosso olhar para o interior, podemos encontrar a marca divina impressa em nossa alma.

Jung aprendeu essa lição no Corpus Hermeticum, que ensina que todos os objetos são revelações do divino, e por trás de tudo, mesmo das manifestações mais abomináveis, está Deus, o único Ser real, enquanto nós não passamos de simulacros, criados apenas para percebê-Lo e espelhá-Lo em toda Sua grandeza maravilhosa e terrível. É por isso que o místico Angelus Silesius exclama: “Homem, […] tudo se apressa ao teu redor, tudo acorre a ti para chegar a Deus.”[15]

O mergulho do menino Jung nos abismos do inconsciente o transporta à noite cósmica original, na qual os arquétipos foram gerados para só depois se transformarem em seres concretos. Como explicar um sonho de tamanha magnitude em idade tão tenra, senão pela concepção de que os arquétipos existem a priori, tal como no sistema axial, que forma os cristais nas soluções saturadas sem possuir, contudo, existência material. Os arquétipos são marcas impressas na alma do universo, e de cada um de nós, em um tempo ainda anterior à criação, em que tudo se resumia à energia psíquica, que é Deus. Ademais, Jung aprendeu com Schopenhauer que a existência não passa de formas que se repetem para refletir uma única realidade: a Vontade.

O encontro com o arquétipo do feminino também é narrado nesse capítulo das memórias, constituindo-se, segundo o autor, na experiência original que o levou a elaborar o princípio da anima, tirado da alquimia, que representa a porção feminina inerente a todos os indivíduos do sexo masculino[16]:

Durante a ausência de minha mãe, nossa empregada também se ocupava de mim. Sei ainda como me erguia nos braços e o modo pelo qual eu apoiava a cabeça em seu ombro. Tinha cabelos negros e pele azeitonada, era muito diferente de minha mãe. […] Era como se ela não pertencesse a minha família, mas unicamente a mim. Mas de um modo incompreensível estava como que ligada às coisas misteriosas que eu não podia compreender. O tipo desta moça tornou-se mais tarde um dos aspectos da minha anima. Ao seu contato eu experimentava o sentimento de alguma coisa insólita e ao mesmo tempo desde há muito conhecida: tal era a característica desta figura que foi mais tarde para mim a quintessência do feminino.[17]

O eterno feminino do homem é um reflexo do Pleroma, o Nada (Nihilo) que contém todos os pares de opostos. É a esse plano que se refere Aristófanes, em “O Banquete”, quando narra o mito do Andrógino. Tal como deus e demônio, masculino e feminino também se encontram fundidos em cada um nós.

A anima pode se manifestar tanto em sua face resplandecente quanto sombria, contendo em si o conflito de opostos que se reflete em todas as esferas da existência. Jung conta que percebia exatamente esse conflito de opostos na mãe. Para além da personalidade convencional, correspondente à esposa de um devoto pastor que exigia boas maneiras do filho, havia outra, misteriosa e investida de uma estranha autoridade, como se possuísse algo dom profético. De acordo com Jung, a transformação era tão intensa que modificava até a voz de sua mãe, que se tornava mais grave e profunda, infundindo-lhe medo e fascínio: “De noite, minha mãe tornava-se sensível e misteriosa. Uma noite vi sair de sua porta uma figura algo luminosa, vaga, cuja cabeça se separou do pescoço e planou no ar, como uma pequena lua. Logo apareceu outra cabeça que também se elevou. Esse fenômeno repetiu-se umas seis ou sete vezes”.[18]

Na infância de um mago não poderiam faltar os fenômenos parapsicológicos, que lhe revelavam a existência de dimensões desconhecidas pelos homens médios, voltados apenas às questões da vida cotidiana. Ao longo do capítulo, o processo de mimetização operado por Jung se aprofunda cada vez mais, com a intenção de cristalizar, definitivamente, no leitor o arquétipo do mago. Em determinado momento, não nos resta outra saída senão a de admitir que o narrador era de fato uma criança dotada de dons especiais. O mais cético dos leitores não poderá discordar dessa afirmação sem correr o risco de parecer ingênuo frente a “evidências” tão “robustas”.

No ensaio “A doutrina das semelhanças” (1933), Walter Benjamin se refere à importância central que a faculdade mimética ocupa no desenvolvimento das tradições ocultas. Partindo dessa premissa, ele afirma que a escola da mimesis é a brincadeira infantil, nas quais as crianças imitam outros. No caso do menino Carl Gustav, sua atividade preferida, como não podia deixar de ser, era a de brincar de mago. Ao representar esse papel, o menino revelava uma grande desenvoltura, mostrando possuir uma intimidade particular com os elementos da natureza, mantendo-os sob seu domínio com mais perspicácia do que os demais: “(M)inha mãe viajou comigo para a Turgóvia, em visita a amigos que habitavam num castelo à beira do lago de Constança. Ninguém conseguia afastar-me da margem. […] Foi então que se fixou fortemente em mim a idéia de que eu deveria viver à beira de um lago. Parecia-me impossível viver sem a proximidade da água”.[19]

Em outro momento, ele afirma que uma de suas personas favoritas na infância era a de guardião do fogo sagrado:

Lembro-me de que nessa época (de meus sete aos nove anos) gostava de brincar com fogo. Em nosso jardim uma velha parede construída com grandes blocos de pedra, cujos interstícios formavam vazios curiosos. Com a ajuda de outras crianças eu costumava formar vazios curiosos. Com a ajuda de outras crianças eu costumava manter uma pequena fogueira acesa dentro deles. O fogo devia arder ‘sempre’, portanto era necessário alimentá-lo continuamente. Devíamos unir nossos esforços a fim de juntar a madeira necessária. Ninguém, senão eu, tinha licença para cuidar diretamente do fogo. Meus companheiros podiam acender outras fogueiras, em outros buracos, mas elas eram profanas e não me diziam respeito. Só meu fogo era vivo e tinha um evidente caráter sagrado. Durante muito tempo foi esse o meu brinquedo preferido.[20]

Como aponta Benjamin (1985, p. 12), o ato de mimetizar, característico das brincadeiras, não se restringe às outras pessoas, mas também a animais, minerais e até objetos. Essa reflexão será transformada no objeto central de um capítulo de suas memórias de infância, intitulado “A arte de caçar borboletas” (1928). Na narrativa, observamos a fusão mágica entre o menino-caçador Benjamin e o objeto da caça, a borboleta:

Entre nós começava a se impor o antigo estatuto da caça (i. do a.): quanto mais me achegava com todas as fibras ao inseto, quanto mais assumia intimamente a essência da borboleta, tanto mais ela adotava em toda ação o matiz da decisão humana, e, por fim, era como se sua captura fosse o único preço pelo qual minha condição de homem pudesse ser reavida. […] Era desse modo penoso que penetrava no caçador o espírito daquele ser condenado à morte. O idioma no qual presenciara a comunicação entre a borboleta e as flores – só agora entendia algumas de suas leis.[21]

O devir-animal[22] do menino Benjamin encontra paralelo no devir-mineral do menino Jung, relatado nas memórias como a sua primeira experiência de êxtase místico:

[H]avia uma encosta na qual ficava encravada uma pedra um pouco saliente – minha pedra. Às vezes, quando estava só sentava-me nela e então começava um jogo de pensamentos que seguia mais ou menos este curso: ‘Eu estou sentado nesta pedra. Eu, em cima de mim.’ – Surgia então a pergunta: ‘Sou aquele que está sentado na pedra, ou sou a pedra na qual ele está sentado – Esta pergunta sempre me perturbava: eu me erguia, duvidava de mim mesmo, meditando acerca de ‘quem seria o quê?’ Isto não se esclarecia e minha incerteza era acompanhada pelo sentimento de uma obscuridade estranha e fascinante. O fato indubitável era que essa pedra tinha uma singular relação comigo. Eu podia ficar sentado nela horas inteiras, enfeitiçado pelo enigma que ela me propunha.

Trinta anos mais tarde encontrei-me de novo no flanco dessa colina; já era casado, tinha filhos, uma casa, um lugar no mundo, a cabeça cheia de idéias e projetos e, repentinamente, redescobri em mim a criança que acende uma fogueira cheia de significações secretas, que se senta numa pedra sem saber se ela é a pedra ou se a pedra é ela. […] Isto era simultaneamente terrível e cheio de sedução. O mundo da minha infância, no qual eu acabava de mergulhar, era eterno e dele eu fora arrancado, precipitado num tempo que ia rolando incessantemente e se afastando cada vez mais.[23]

Em comunhão com a pedra, o menino Jung experimenta o êxtase, adentrando em uma dimensão em que as fronteiras entre espaço, tempo e causalidade são abolidas, e a divisão entre “eu” e o “outro”, anulada. Essa experiência desvela o milagre da vida eterna, como salienta o místico Angelus Silesius, quando define Deus como um “eterno Presente”, e afirma: “Eu sou eternidade quando, deixando o tempo, me compreendo em Deus e compreendo Deus em mim”.[24]

Nesse sentido, o devir-pedra opera uma fusão entre a forma de vida mais primitiva e a mais evoluída, o que, em sentido arcano, é o lapis alquímico, obtido pela união de opostos. Como afirma Jung, em trecho de sua obra “Psicologia e Alquimia” (1944):

O lapis não é somente uma ‘pedra’ mas, segundo é claramente constatado, se compõe ‘de re animali, vegetabili et minerali’ (coisas animais, vegetais e minerais), consistindo de corpo, alma e espírito ; ela cresce a partir da carne e do sangue . O filósofo HERMES na Tabula smaragdina diz o seguinte: ‘O vento carregou-a em seu ventre’ […]. Vê-se claramente que ‘O vento é o ar, o ar é a vida e a vida, a alma.’ ‘A pedra é a coisa intermediária entre os corpos perfeitos e imperfeitos, e o que a própria natureza começou será levado à perfeição pela Arte’. Esta pedra é chamada o ‘lapis invisibilitatis’ (pedra da invisibilidade). [25]

Na mesma obra, ele também afirma que uma das manifestações mais recorrentes do arquétipo do self, o centro da personalidade total, ocorre sob a forma de elementos minerais, o que justificaria as crenças esotéricas no poder dos amuletos constituídos de pedras.

Ainda no plano da mimesis, o menino Jung também apreciava representar o papel de demiurgo (artífice/criador):

Minha divisão interior, minha insegurança no vasto mundo levaram-me a um empreendimento incompreensível naquela época: utilizei um estojo amarelo laqueado de guardar canetas, que tinha uma pequena fechadura, desses comumente usados pelos alunos da escola primária. Dentro dele havia uma régua. Na extremidade dela esculpi um homenzinho de cerca de seis centímetros de comprimento, com “fraque, cartola e sapatos lustrosos”. […] Coloquei perto dele um seixo do Reno, polido, alongado, escuro, que eu pintara de várias cores com aquarela, de maneira que a parte inferior e a parte superior ficassem separadas. […] Era a pedra dele. Tudo isto constituía um grande segredo que, no entanto, eu não compreendia. Levei às escondidas o estojo com o homenzinho até o sótão […] e (e)scondi-o numa viga de madeiramento e era uma grande satisfação pra mim pensar que ninguém o veria. Sabia que ninguém poderia encontrá-lo lá, que ninguém poderia descobrir e destruir o meu segredo.

[…] Lá, junto às vigas, abria o estojo e contemplava o homenzinho e sua pedra. Colocava então junto a ele um rolinho de papel no qual escrevera antes, durante as aulas, algumas palavras numa caligrafia secreta que inventara. Eram tiras de papel, cobertas de uma escrita compacta, que eu enrolava e entregava à guarda do homenzinho. Lembro-me de que o ato de incorporação de cada novo rolinho tinha sempre o caráter de um ato solene. Infelizmente não posso lembrar-me do que pretendia comunicar ao homenzinho. Sei apenas que as minhas ‘cartas’ significavam uma espécie de biblioteca para ele.

[…] O sentido destas ações ou sua explicação possível não me preocupavam. Eu me contentava com o sentido de uma nova e prazerosa segurança e experimentava a satisfação de possuir algo que ninguém poderia atingir ou conhecer. Para mim, tudo isto representava um segredo inviolável que jamais deveria ser traído, pois dele dependia a segurança da minha existência.

Esta posse de um segredo marcou-me fortemente. […] Buscava continuamente algo de misterioso. […]

O episódio do homenzinho talhado na madeira que durou um ano foi o apogeu e fim da minha infância. [26]

Nessa passagem, o princípio de correspondência entra de novo em ação. O homem cria por meio de objetos exteriores que, em realidade, não existem, uma vez que não há objeto exterior ao Uno, o Pleroma. Tal princípio também se aplica à geração, que é apenas a manifestação do Uno por meio da transformação de suas manifestações aparentes, pois o que é Uno não pode subtrair nem multiplicar a si mesmo. Nessa perspectiva, o indivíduo só possui, em realidade, o poder da criação mental, o que o assemelha a Deus, uma vez que o Universo é apenas um sonho da mente do Criador. O que está em cima equivale ao que está embaixo; se o Uno só pode criar mentalmente, o mesmo se dá com o homem. Assim é a lei de Hermes.

Aquilo que, ao primeiro olhar, não passa de uma brincadeira infantil, na verdade é uma analogia simbólica do mito do Gênesis, na qual o menino-demiurgo interpreta o papel de Javé quando molda seu Adão do barro. A complexidade dessa brincadeira será confirmada anos depois:

[…] Esqueci-me depois totalmente desse fato, até meus 35 anos […], (q)uando […] li acerca dos cache de pedras da alma, perto de Arlesheim e acerca das churingas dos australianos. Descobri subitamente que eu fizera uma imagem muito precisa de tais pedras, se bem que nunca tivesse visto antes qualquer reprodução delas. Apresentou-se-me a imagem de uma pedra polida, pintada de tal maneira que a parte superior se distinguia da parte inferior. Mas ela não me parecia algo desconhecido e foi então que me voltou à lembrança um estojo amarelado de guardar canetas e um telésforo que em muitas representações antigas aparece perto de Esculápio, para o qual lê, num rolo que tem nas mãos.

[…] No fundo, todo este conjunto representa um cabiro embrulhado num casaquinho, na kista (caixinha) e munido de uma provisão de força vital, a pedra alongada e enegrecida.[27]

A sofisticada cosmogonia do menino envolvia até amuletos e uma Escritura Sagrada, unindo o baixo (pedra) ao alto (palavra). Aliás, é essencial frisar a importância destacada da Palavra nas tradições ocultas, como o confirma Emanuel Swedenborg, em sua interpretação do mito do Gênesis, presente na obra “Arcana Coelestia” (1749), ao ressaltar a importância do Verbo (Logos)[28] na criação e organização do mundo:

O homem, como a terra, não pode produzir bem algum se antes não forem semeados nele o conhecimento […], que lhe permite saber o que acreditará e o que fará. Ouvir o Verbo é tarefa do entendimento, e fazê-lo é ofício da vontade. Ouvir o Verbo e não fazê-lo é como quem diz que acredita, mas não vive conforme a sua crença. Neste caso, separa ouvir de fazer e tem uma mente dividida, pertencendo assim àqueles que o Senhor chama ‘insensatos’ na seguinte passagem: ‘Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática será comparado a um homem prudente, que edificou a casa sobre a rocha. […] Mas todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as põe em prática será comparado a um homem insensato, que edificou sua casa sobre a areia’ (MT 7, 24-26)”.[29]

No “Poemander”, segundo livro do “Pymander”, o Nous[30] orienta Hermes a respeito deste princípio, afirmando que o Mundo foi criado “(do) Desejo e da Decisão de Deus; que, tomando a Palavra e olhando para o belo Mundo (no Arquétipo dele), imitou-o e fez este Mundo, pelos princípios e Sementes vitais ou produtos da Alma semelhantes a ela.” [31]

Nessa perspectiva, o dom de criar pela palavra só existe no homem porque foi concedido pelo Criador. Assim sendo, a criatura deve utilizá-lo com a intenção de espelhar o próprio Verbo e, por meio Dele, chegar a Deus. O mago Jung conhece bem o poder da Palavra e, por isso, não revela o nome da entidade subterrânea que o aterrorizou na infância, sob o temor de conjurá-la.

Jung, tal como Benjamin, restitui o poder sagrado da Palavra, que, desde o advento da modernidade, havia sido rebaixada à mera representação das manifestações externas, deixando de ser um mapa que revelava o hipertexto divino.

Não podia ser diferente, já que o Verbo é justamente o instrumento que lhe propicia construir o mito de origem do mago-menino. Em outro plano, também me permite construir a minha própria cosmogonia, onde as esferas do alto e do baixo se refletem e se imbricam, tal como prega a Lei. No meu mito pessoal, assumo tanto o papel de decifrador-comentador do hipertexto do grande mago, como o de demiurgo, transformando Jung no meu Adão, engendrado à minha imagem e semelhança. Na essência, tudo se equivale, já que “eu” e “ele” sequer somos reais; não passamos de aparências que se unem na Mente do Criador, o que também equivale a dizer que somos a mesma pessoa. Assim reza a doutrina do “três vezes Grande” Hermes Trimegisto:

Eu sou aquela Luz, a Mente, teu Deus, que existe antes da natureza Úmida que surge da escuridão, e aquela Palavra Clara e Cheia de Luz que vem da Mente é o Filho de Deus.

[…] Entenda que aquilo que em ti Vê e Ouve, a Palavra do Senhor, e a Mente d(e) Deus, não se diferenciam Um do Outro, e a União deles forma a Vida.

[…] Tu viste em tua mente a Forma Arquétipa, que estava antes do Início Infinito e interminável?

[…] Pois a Mente que é Deus, Masculino e Feminino, Vida e Luz, gerou por sua Palavra outra Mente, o Obreiro […].

[…] Mas o Obreiro, Mente, junto com a Palavra, contendo os Círculos e Revolvendo-os, girou como uma Roda suas próprias Obras e as transformou de um Início indefinido a um Fim indeterminado; pois elas sempre começam onde terminam.[32]

 

Bibliografia

 

  1. Basílides. Mito. In: Layton, B. As escrituras gnósticas. São Paulo: Loyola, 2002.
  2. Benjamin, Walter. A doutrina das semelhanças. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras escolhidas. v. 1. São Paulo: Brasiliense, 1985.
  3. Benjamin, Walter. A arte de caçar borboletas. In: Rua de mão única. Obras escolhidas. v. 1. São Paulo: Brasiliense, 1987.
  4. Jung, C. G. Aion, Estudos sobre o Simbolismo do Si-Mesmo. In: Obras completas. v. IX/2. Petrópolis: Vozes, 2007.
  5. Jung, Carl Gustav. Memórias, Sonhos, Reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.
  6. Jung, Carl Gustav. Psicologia e alquimia. In: Obras completas. v. XII. Petrópolis: Vozes, 1992.
  7. Silesius, Angelus. O peregrino querubínico. São Paulo: Loyola, 1996.
  8. Swedenborg, Emanuel. Arcana Coelestia e Apocalipsis Revelata. São Paulo: Hedra, 2008.
  9. Trimegisto, Hermes. Corpus Hermeticum. Discurso de Iniciação: A Tábua de Esmeralda. São Paulo: Hemus/2005.
  10. Wescott, William Wynn. O Divino Pymander. In: Coletânea Hermética. São Paulo: Madras, 2003.

Notas

[1] O termo Pleroma, recorrente nas cosmologias gnósticas, designa “plenitude”, o inefável que antecede à criação do mundo.
[2] Os gregos empregavam o termo persona para designar a máscara que os atores usavam para representar os papéis na tragédia. No campo da psicologia analítica, persona significa o papel que desempenhamos em nosso convívio social.
[3] Jung, Carl Gustav, Memórias, Sonhos, Reflexões, p. 35.
[4] Jung, Carl Gustav, Memórias, Sonhos, Reflexões, p. 38.
[5] Jung, Carl Gustav, Memórias, Sonhos, Reflexões, p. 39.
[6] Jung, Carl Gustav, Memórias, Sonhos, Reflexões, pp. 39-40.
[7] A faceta obscura da personalidade, que engloba as características desagradáveis, gerando uma resistência nos indivíduos em integrá-la à consciência, o que, por sua vez, estimula a projeção em um objeto externo.
[8] Referência ao helenismo que, na época, exercia uma influência considerável na vida intelectual da cidade, e que resultou em doutrinas que mesclavam conhecimentos filosóficos e matemáticos às narrativas míticas dos antigos cultos pagãos do Oriente e do recém-surgido cristianismo.
[9] Jung, Carl Gustav, Memórias, Sonhos, Reflexões, p. 436.
[10] Jung, Carl Gustav, Psicologia e alquimia, p. 24.
[11] Jung, Carl Gustav, Psicologia e alquimia, p. 20.
[12] Jung, Carl Gustav, Memórias, Sonhos, Reflexões, pp. 40-41.
[13] Jung, Carl Gustav, Memórias, Sonhos, Reflexões, pp. 43-44.
[14] Jung, Carl Gustav, Memórias, Sonhos, Reflexões, p. 42.
[15] Silesius, Angelus, O peregrino querubínico, p. 50.
[16] Segundo Jung, a mulher possui um princípio oposto: o animus, que consiste nos atributos masculinas de sua personalidade.
[17] Jung, Carl Gustav, Memórias, Sonhos, Reflexões, p. 37.
[18] Jung, Carl Gustav, Memórias, Sonhos, Reflexões, p. 46.
[19] Jung, Carl Gustav, Memórias, Sonhos, Reflexões, p. 32.
[20] Jung, Carl Gustav, Memórias, Sonhos, Reflexões, p. 49.
[21] Benjamin, Walter, A arte de caçar borboletas, p. 81.
[22] Termo utilizado por Deleuze e Guatarri no volume 4 da obra “Mil Platôs”.
[23] Jung, Carl Gustav, Memórias, Sonhos, Reflexões, pp. 49-50.
[24] Silesius, Angelus, O peregrino querubínico, p. 17.
[25] Jung, Carl Gustav, Psicologia e alquimia, p. 189.
[26] Jung, Carl Gustav, Memórias, Sonhos, Reflexões, pp. 50-52.
[27] Jung, Carl Gustav, Memórias, Sonhos, Reflexões, pp. 52-53.
[28] O mesmo ocorre na lenda judaica do Golem, na qual um rabino traz à vida uma criatura de barro ao escrever a letra Aleph, a primeira do alfabeto hebraico, em sua testa.
[29] Swedenborg, Emanuel, Arcana Coelestia e Apocalipsis Revelata, pp. 55-56.
[30] Na tradição platônica e neoplatônica, Nous significa “intelecto”, “mente universal”.
[31] Wescott, William Wynn, O Divino Pymander, p. 84.
[32] Wescott, William Wynn, O Divino Pymander, p. 84.